segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

“Ela se chamava Alice, ele Zé. Não combinavam em quase nada. Não faziam parte de uma história americana, tampouco se conheceram depois de derrubar os livros num corredor qualquer. A verdade é que eles eram aqueles amigos que brigavam demais e todos  diziam: “Esses aí ainda vão namorar”. Porque é assim que começa; amizade que vira amor, quem diria que eles dois estariam juntos. Justo eles que brigavam tanto. Nas conversas de grupo, ela sempre arranjava uma forma de diminuí-lo, ou fazer com que ele se sentisse excluído. Já ele, ficava rindo e dizia: “Alice, você me ama muito, porque sempre arranja uma forma de ficar brigando comigo”. Ela o xingava constantemente. Mas é assim que a história começa, porque quanto mais você xinga, mais ama. Pelo menos foi assim que os dois aprenderam.  Se eles  fossem assistir algum filme havia briga, ela queria uma comédia romântica, já ele preferia aqueles filmes de ação com muito sangue.  Eles discutiam sobre religião, futebol e política, gostavam de fazer o que ninguém fazia. Definitivamente eles não eram o tipo: “casal clichê”. Comiam pizza com a mão; nunca jogavam a cinza do cigarro no cinzeiro e ele nunca levantava a tampa do vazo.  Ele costumava puxá-la para dançar no quarto à noite. Ele não sabia tocar violão, mas isso não o impedia de cantar mesmo que completamente desafinado “She Will Be Loved”. Não existiam tabus entre os dois, nem aquelas frases  de casais, quando ele dizia algo romântico ela ria muito, pelo menos disso… Porque das piadas dele ela não fazia a mínima questão de disfarçar ao menos, ou de fingir que teve graça; nunca teve medo de agir da maneira que era realmente, por isso que ele se apaixonou por ela. – pelo menos era isso que ela acreditava. Ela gostava de frio, ele de calor e praia. Ela adorava doce, já ele… Salgado.  Ela gostava de MPB. Ele de pagode. Às vezes até a trocava pra ficar no barzinho com os amigos. Na verdade ele ia apenas uns dias no mês, que era quando ela entrava na TPM e ficava pior do que nunca. Mas isso não fazia com que  ele não estivesse presente enquanto ela comia chocolate e ficava se chamando de gorda. Alice era dramática, mas não tanto quanto Zé – acredite. Ela não ficava incomodada em passear a pela casa sem maquiagem, ela nem ligava para o que ele ia pensar. Ela usava as camisas dele, mas do que as roupas dela.Zé nunca olharia para outra mulher, mas isso não impedia que Alice não sentisse ciúmes (medo de perder) dele.  Ambos protagonizavam cenas incríveis ou horríveis, na verdade não sei do que chamar, porque afinal de contas, o fim era o mesmo. Alice se trancava no quarto e chorava, aos prantos e aos soluços, Zé nunca aguentava, ficava batendo na porta sentindo uma culpa terrível. Ele era cheio de medos. Mas o principal era de que ela não visse do quando ele a precisava.  Ah, e pode acreditar que até hoje eles ainda discutem pra saber quem vai ter que levantar da cama pra apagar a luz.  Porém com tudo, mesmo com tanta indiferença ele a amava e ela por sua vez, também o amava. Ele era tão dela quanto ela era dele. Eles não eram parecidos, mas pelo menos, eram perfeitos um para o outro.” 

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